O Clava Forte Bank, fintech cristã ligada à Igreja Batista da Lagoinha e apresentada como “banco do Reino de Deus”, passou a aparecer oficialmente no radar da CPMI do INSS. Documentos enviados à comissão por órgãos de controle indicam que a plataforma recebeu parte de recursos que teriam origem em fraudes envolvendo descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas.
Segundo reportagens que tiveram acesso a relatórios de inteligência financeira (RIFs) do COAF e a informações da Receita Federal, entidades como Amar Brasil, CONAFER, CBPA e a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB) movimentaram valores muito acima do compatível com suas atividades. Uma parte desse dinheiro, de acordo com esses documentos, foi transferida para igrejas, fundações religiosas e para a fintech cristã Clava Forte Bank.
A CPMI do INSS apura um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em benefícios do INSS, investigado também pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto. A perícia da PF já apontou desvios de centenas de milhões de reais em repasses a entidades como a CONAFER, valor que teria sido pulverizado em empresas de fachada e contas de operadores financeiros. Agora, os parlamentares querem seguir o caminho do dinheiro até estruturas religiosas e financeiras que receberam recursos dessas mesmas redes.
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Textos publicados por veículos nacionais afirmam que requerimentos aprovados na comissão pedem a quebra de sigilo bancário e fiscal de organizações ligadas à Lagoinha, de redes associadas ao pastor André Valadão e da fintech Clava Forte Bank. Em pelo menos três notas públicas, o Clava Forte é descrito como “estrutura financeira paralela” ou “possível mecanismo de ocultação de valores”, suspeito de atuar para “esquentar” parte do dinheiro desviado de aposentados.
Uma coluna especializada resume a estratégia da CPMI: verificar se os repasses foram destinados a ações legítimas — como doações, manutenção de templos e projetos sociais — ou se serviram para dar aparência lícita a recursos captados por meio de fraudes em folha de pagamento do INSS. Essa hipótese de lavagem é mencionada de forma preliminar em relatórios do COAF que embasam os pedidos de investigação.
Até o momento, os valores exatos que teriam passado pela fintech não foram divulgados em detalhes ao público. As informações sobre montantes aparecem de forma consolidada para outras estruturas religiosas, como a Sete Church, que teria recebido cerca de R$ 694 mil, mas, no caso do Clava Forte Bank, os números completos permanecem sob sigilo e serão analisados após as quebras aprovadas pela CPMI.
Apresentado ao público gospel como banco digital voltado a igrejas, instituições cristãs, pastores e fiéis, o Clava Forte Bank afirma, em notas anteriores à imprensa, que não é um banco tradicional, mas atua como correspondente bancário dentro do modelo Banking as a Service, utilizando a infraestrutura de uma instituição financeira autorizada pelo Banco Central. A fintech sustenta que, por isso, não aparece na lista oficial de bancos regulados.
Em relação direta às investigações da CPMI do INSS, até a publicação desta matéria não havia posicionamento público específico da fintech sobre os repasses citados nos relatórios de inteligência. Também não há, nas fontes consultadas, decisão judicial que reconheça o Clava Forte como responsável por lavagem de dinheiro ou participação comprovada em organização criminosa; o que existe, por enquanto, são suspeitas e linhas de apuração formalmente abertas pela comissão.
Líder da Lagoinha Global e rosto mais conhecido do projeto, o pastor André Valadão é citado em reportagens como presidente ou principal embaixador do Clava Forte Bank, mas não figura como réu em ações penais relacionadas ao esquema do INSS. Caso as quebras de sigilo e novos RIFs apontem participação direta de gestores da fintech, o relatório final da CPMI poderá sugerir responsabilização ao Ministério Público, que é quem decide se oferece denúncia ou não. Até lá, as menções a Valadão e à fintech permanecem no campo da investigação.
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