A prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, ex-controlador do Banco Master, começou a gerar efeitos colaterais no chamado “mercado financeiro cristão”. Após a Operação Compliance Zero ganhar repercussão nacional, o site do Clava Forte Bank, fintech ligada ao pastor André Valadão e apelidada de “banco da Lagoinha”, saiu do ar e passou a exibir apenas um aviso genérico de manutenção, sem qualquer justificativa visível para clientes e interessados.
Fundado em 15 de março de 2024, o Clava Forte se apresenta como uma fintech cristã voltada a igrejas, instituições religiosas, pastores e, futuramente, fiéis. Nas redes, se define como “um banco criado para impulsionar os projetos do Reino de Deus”. A empresa tem sede em Belo Horizonte, no mesmo prédio em que funciona a Igreja Batista da Lagoinha, e é administrada por André Valadão, presidente da Lagoinha Global, e pela esposa, Cassiane Montosa Pitelli Valadão.
Reportagens descrevem o Clava Forte como um banco digital que oferece contas para igrejas e líderes religiosos, cartões pré-pagos, linhas de crédito para construção ou reforma de templos, seguros, planos funerários e maquininha para doações e pagamentos. Em testes relatados pela imprensa, o acesso ao cadastro aparece restrito, exigindo código de convite ou QR Code para abertura de conta.
Do ponto de vista regulatório, o Clava Forte não aparece na lista de bancos autorizados pelo Banco Central, nem entre os associados da Febraban. Em notas enviadas a veículos de imprensa, a empresa afirma atuar como correspondente bancário no modelo de “banking as a service”, utilizando a infraestrutura da CDC SCD S.A. (Banco 470), instituição regulada pelo BC. Especialistas em finanças lembram que, juridicamente, trata-se de uma fintech privada com CNPJ, contratos e responsabilidades civis próprias, ainda que se apoie na imagem e no público da Lagoinha.
A ligação com a Lagoinha é central não só para o marketing do produto, mas também para o debate político recente. A CPMI do INSS, que apura fraudes em empréstimos consignados e suspeitas de uso de estruturas religiosas em esquemas de lavagem de dinheiro, recebeu relatórios de inteligência financeira do Coaf e da Receita que citam uma “fintech cristã” ligada à Lagoinha entre as destinatárias de recursos sob investigação. Requerimentos apresentados por parlamentares pedem quebra de sigilos bancário e fiscal do Clava Forte para esclarecer a natureza dessas operações. Até o momento, não há decisão judicial que atribua crime à empresa.
No caso de Daniel Vorcaro, a situação é mais avançada. O ex-dono do Banco Master está preso preventivamente na Operação Compliance Zero, que investiga um esquema bilionário de emissão de títulos de crédito falsos, gestão fraudulenta e organização criminosa, e levou o Banco Central a decretar a liquidação extrajudicial da instituição financeira.
Até a última atualização desta reportagem, nem o Clava Forte Bank nem André Valadão haviam divulgado nota pública sobre a retirada do site do ar após a prisão de Vorcaro. Também não houve, nos canais oficiais da fintech ou da Lagoinha, explicação para o aviso de “manutenção” nem esclarecimentos sobre eventual impacto das investigações parlamentares e policiais sobre as operações do chamado “banco da Lagoinha”.
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