Em entrevista, Petra Costa confirma campanha internacional da Netflix para levar seu documentário à disputa e reforça força do cinema brasileiro no cenário mundial.
O documentário Apocalipse nos Trópicos, da cineasta Petra Costa, surge como uma das principais apostas do Brasil no Oscar 2026. Em entrevista ao portal Omelete, a diretora confirmou que a Netflix está preparando uma campanha internacional robusta, no mesmo modelo de divulgação que levou Democracia em Vertigem (2019) à indicação da Academia.
Segundo Petra, a expectativa é alta. O filme já tem gerado repercussão internacional e se soma a outras produções brasileiras de destaque, como O Agente Secreto e O Último Azul, que também figuram no radar do Oscar. Para a diretora, o momento é especial:
“É lindo ver tudo acontecendo de novo esse ano. Estou torcendo por todos os nossos filmes. Apesar dos sucessivos golpes que o cinema brasileiro sofre na mão da direita e da extrema direita, ele continua tão vibrante”, declarou.
O otimismo de Petra se conecta com uma fase de maior visibilidade do cinema nacional. O sucesso recente de Ainda Estou Aqui, indicado e premiado no exterior, abriu caminho para que novas produções conquistassem atenção da crítica e do público internacional.
No centro de Apocalipse nos Trópicos está a relação entre religião e política no Brasil contemporâneo. O documentário traz como protagonista o pastor Silas Malafaia, figura próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Petra explica que a escolha não foi por considerá-lo o mais influente líder evangélico, mas pela relevância simbólica que ganhou dentro do recorte narrativo:
“O Malafaia é uma metonímia do que a gente queria explorar, que é esse casamento entre religião e política, e esse plano dominionista que vem tomando o Brasil de assalto através de uma ala do fundamentalismo evangélico.”
A cineasta destaca que a proposta não é retratar o campo evangélico como um todo, mas sim mostrar como parte desse movimento se articula politicamente para influenciar decisões de Estado. Além de Malafaia, o documentário acompanha a trajetória de Bolsonaro, Lula e manifestações populares ocorridas nos últimos anos.
Petra reconhece que esse tema ainda é pouco estudado e, ao mesmo tempo, central para compreender a atual conjuntura política. Para ela, a ascensão do fundamentalismo religioso não é um fenômeno isolado do Brasil, mas parte de uma tendência global.
A diretora também falou sobre a resiliência do cinema nacional, que resiste a cortes de investimento e a pressões políticas. Na sua visão, a sobrevivência e a vitalidade das produções brasileiras são um contraponto às dificuldades enfrentadas pelo setor:
“Nós já conseguimos conquistas incríveis, como a cota de telas. A regulação do streaming cai no mesmo lugar, porque sem regras claras continuaremos tendo menos direitos. Precisamos de mecanismos para fortalecer nossa produção.”
O debate sobre a regulação do streaming é um dos pontos que unem cineastas brasileiros em defesa de políticas públicas que garantam espaço para produções nacionais em plataformas globais. Para Petra, esse é um passo essencial para que o Brasil siga competitivo em premiações internacionais.
Com Apocalipse nos Trópicos, Petra Costa não apenas consolida sua trajetória como uma das cineastas mais reconhecidas da sua geração, mas também coloca novamente o Brasil no radar da Academia. A campanha já está em curso, e a expectativa é de que o filme mantenha o protagonismo nas discussões até a cerimônia do Oscar 2026.
PUBLICIDADE